quarta-feira, 15 de junho de 2011

Nem toda nudez será castigada



O casamento que não permite a cada um ser como é, impondo a necessidade de máscaras e obrigando a sempre agradar, torna-se peso, cadeia e escravidão. As cobranças multiplicam-se por todos os lados. É quando surgem as mentiras, os mundos paralelos, as vidas paralelas, os adultérios. O homem segue atrás de quem o valorize, ignorando que sai para desfrutar uma ilusão, com outra pessoa. O mesmo acontece à mulher, que cede aos encantos de quem a valorize e lhe faça sentir-se melhor. Nova ilusão. E o fim de toda ilusão é a frustração.

O mundo chamado virtual é um “prato cheio” para os que buscam valorização. Espaço apropriado para a construção de autoimagens que não precisam, necessariamente, corresponder à realidade. Na pornografia virtual, homens descontentes de si mesmos se satisfazem com as mais belas mulheres do mundo. Nas salas de “bate-papo” virtual, mulheres decepcionadas com a vida que levam se satisfazem com os galanteios dos mais nobres, educados, charmosos e românticos homens que há. Mas nunca se satisfazem plenamente. Ilusões são como torrões de açúcar: doces ao paladar, mas incapazes de matar a sede, que só fazem deixar cada vez mais forte. Daí os vícios, a dependência, a destruição de tudo que, outrora, foi importante para um e para o outro. Marcas difíceis de apagar.

O casamento como missão convida a um retorno à nudez. Devemos nos despir de nossas fantasias. Ser quem somos diante de Deus. Ah, Deus. Ele nos aceita como somos. Planta, outra vez, a mesma árvore do conhecimento em nossos jardins: “você é homem e não Deus” – ela diz, não para diminuir-nos, mas para aplacar-nos a ânsia de sermos diferentes. Não precisamos. Somos bem-vindos, assim, como somos. E somos amados, muito amados. O mesmo que nos criou livres, e que definiu os limites de nossa existência, sendo conhecedor de nossa tragédia, assumiu sobre os próprios ombros a consequência de nosso pecado. Para envergonhar nossa vontade absurda de ser como ele, fez-se como nós. Viveu como nós. Morreu por nós. Encarnou em Jesus Cristo, que nos livra de nossas angústias e ilusões de poder.

O casamento é convite à nudez da alma, mais do que do corpo. Esta, sem aquela, é sempre ilusão. Como posso despir meu corpo diante de quem não posso despir a alma? Como ser possuído por quem ainda não demonstrou completa aceitação por quem eu sou de fato, contra tudo que pareço ser? Corpo é aparência! Como entregar minha intimidade para quem não assumiu comigo o compromisso de uma vida inteira, com todas as implicações de tal decisão? Como ser uma-só-carne, se ainda não deixei pai e mãe? Pobre do jovem que se despe com facilidade para melhor poder se esconder.

Voltemos à nudez no casamento. Sejamos autênticos. Lembremos do quanto somos amados por Deus e de como este amor nos habilita a amar sem reservas, sem expectativas exageradas de correspondência e sem preconceitos. Assumamos nossa verdadeira identidade, como filhos de Deus. Apresentemo-nos como imperfeitos, mas, também, como quem deseja acertar e viver com coerência para a glória de Deus. Ele nos aceitou e nos fez verdadeiramente livres.
 
 

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