sexta-feira, 26 de agosto de 2011

É Deus quem justifica




Maravilhosa coisa é ser justificado ou feito justo por Deus. Se jamais tivéssemos quebrado as leis de Deus, não teríamos necessidade disso, pois seríamos justos em nós mesmos. Aquele que durante toda a vida fez o que deveria ter feito e que jamais fez o que não deveria fazer é justificado pela lei. Mas estou certo, caro leitor, que você não é esse tipo de pessoa. Você é muito honesto para fingir que não tem pecado, e portanto, precisa ser justificado. Caso insista em justificar a si mesmo, você estará simplesmente enganando a si mesmo. Portanto, não tente fazê-lo. Não valerá a pena. Se você pedir que o justifiquem, o que aos seus companheiros mortais poderão fazer? Talvez consiga até mesmo que alguns deles falem bem de você em troca de pequenos favores, e outros, por menos, falarão mal às suas costas. O julgamento dos homens não vale muito. Outro texto bíblico diz: “É Deus quem os justifica”. Isto sim, vale muito mais do que tudo que possa ser dito. Tal fato é impressionante e que devemos considerar.

Vem e vê. Em primeiro lugar, ninguém mais senão Deus jamais teria pensado em justificar aqueles que são culpados. Viveram a vida inteira em rebelião aberta; fizeram o mal com ambas as mãos; foram de mal a pior; voltaram-se para o pecado até mesmo depois de o haverem sofrido e obrigados a deixá-lo durante certo tempo. Quebraram a lei e calçaram aos pés o evangelho. Recusaram-se a ouvir a proclamação da misericórdia e persistiram na impiedade. Como poderão ser perdoados e justificados? Seus amigo, desalentados quanto a eles, dizem: “São casos sem esperança”. Até mesmo, os cristãos os olham com tristeza em vez de com esperança. Mas não seu Deus! Ele, no esplendor de sua graça eletiva, tendo escolhido alguns antes da fundação do mundo, não descansará até que os tenha justificado. Não está escrito: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”. Se você vê que há alguns aos quais o Senhor resolveu justificar, por que não concluir que você estaria também entre eles? Ninguém senão Deus pensaria em justificar a mim, tão pecador. Sou uma admiração para mim mesmo. Duvido que a graça não seja igualmente vista em outras pessoas.

Veja Saulo de Tarso, que vociferou contra os servos do Senhor. Como lobo faminto, aterrorizou os cordeiros e as ovelhas à direita e à esquerda; e, ainda assim, Deus foi ao seu encontro no caminho de Damasco, e mudou seu coração, justificando-o tão completamente que, mais tarde, esse homem tornou-se o maior pregador da justificação pela graça mediante a fé que jamais viveu. Ele se maravilhou, muitas vezes, de que tenha sido justificado pela fé em Jesus Cristo, pois que fora antes seguidor determinado da salvação por meio da lei. Ninguém senão Deus jamais pensaria em justificar tal homem como Paulo, o perseguidor. Contudo, o Senhor Deus é glorioso em graça. Contudo, ainda que alguém tivesse pensado em justificar o ímpio, ninguém senão Deus poderia tê-lo feito. É quase impossível que alguém possa perdoar ofensas que não tenham sido cometidas contra ele mesmo.

Se uma pessoa pecar contra você, você mesmo poderá perdoá-la, e eu espero que o faça; mas nenhuma outra pessoa humana poderá perdoá-la em seu lugar. Se o mal foi cometido contra você, o perdão tem de vir de você. Quando pecamos contra Deus, está no poder de Deus nos perdoar, pois o pecado foi cometido contra ele. Por isso é que Davi diz? “Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos”, pois só Deus, contra quem a ofensa foi cometida, pode dirimir a ofensa. Aquilo que devemos a Deus, nosso grande Criador pode remir, se lhe aprouver; e se ele remir, estará remido. Ninguém a não ser Deus, contra quem cometemos pecado, poderá apagar nosso pecado. Assim, vejamos que cheguemos a Deus e busquemos misericórdia em suas mãos. Não nos deixemos levar por aqueles que desejam que lhes confessemos nossos pecados; eles não têm garantia na Palavra de Deus para suas pretensões. Mas até mesmo, se tais religiosos ou seculares forem ordenados ou reconhecidos para pronunciar absolvição em nome de seu deus, ainda assim será melhor que nos acheguemos ao grande Senhor Jesus Cristo, o Mediador, e busquemos perdão em suas mãos, pois temos certeza de ser este o melhor caminho.

Religião por procuração envolve rico muito grande: melhor será examinar você mesmo as coisas de sua alma e, então, deixa-la nas mãos do único Deus que pode justificar o ímpio – e que pode fazê-lo com perfeição. Ele lança os nossos pecados sobre seus próprios ombros e os apaga. Ele diz que, ainda que nossos pecados sejam procurados, jamais serão achados. Sem qualquer outra razão que não a sua própria infinita bondade, ele nos preparou uma maneira pela qual ele pode fazer pecados vermelhos como a escarlata tornarem-se brancos como a neve, e remover nossas transgressões para tão longe quanto dista o oriente do ocidente. Ele diz: “Dos seus pecados jamais me lembrarei”. Ele põe um fim ao pecado. Um dos antigos clamou maravilhado: “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia” (Miquéias 7.18).

Não estamos agora falando de justiça nem de como Deus lida com o homem segundo suas obras. Se fosse professar operar segundo a justiça do Senhor ou em termos de sua lei, a ira perene certamente o ameaça, pois é o que você merece. Bendito seja o seu nome, pois ele não segundo os nossos pecados, mas nos trata agora em termos de graça e de gratuidade, com infinita compaixão. A Palavra também diz: “sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”. Creia, pois certamente é verdadeiro que o grande Deus é poderoso para tratar a culpa com abundante misericórdia. Sim, ele é capaz para tratar os ímpios como se eles tivessem sempre sido piedosos. Leia cuidadosamente a parábola do Filho Pródigo e veja como pai perdoador recebe o filho perdido que retorna à casa, com amor tal como se ele nunca houvesse partido, como se nuca houvesse esbanjado e prostituído. Tão logo o pai o recebeu, o irmão mais velho começou a murmurar, mas o pai jamais deixou de amá-lo.

Ó meu amigo, não importando quão culpado seja, se você apenas retornar ao seu Deus e Pai, ele o tratará como se nada de errado tivesse acontecido! O Pai o considerará como justo e o tratará conforme a justiça de Cristo. O que é que você diz a isso? Você não vê – eu quero deixar bem claro tal esplendor – que ninguém exceto Deus pensaria em justificar o ímpio, que ninguém mais poderia tê-lo, e que ele o fez? Veja como o apóstolo coloca o desafio: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica”. Se Deus justificou alguém, está feito, está corretamente feito, justamente feito, e para sempre. Li uma declaração em uma revista repleta de veneno contra o evangelho e contra os que o pregam, sustentando um tipo de teoria que imaginava que o pecado poderia ser removido da pessoa. Certamente não mantemos uma teoria, mas declaramos um fato. O maior fato sob os céus: que Jesus Cristo, pelo seu precioso sangue, realmente afasta de nós o pecado, e que Deus, por amor de Cristo, lida com as pessoas em termos de sua misericórdia, perdoa e justifica os culpados, não segundo qualquer coisa que veja neles agora ou para o futuro, mas segundo as riquezas de misericórdia de seu próprio coração.

Isto é o que temos anunciado, anunciamos e continuaremos a anunciar enquanto vivermos aqui. “É Deus quem justifica” – que justifica o ímpio. Ele não se envergonha disso nem nós nos envergonhamos de proclamá-lo. A justificação que vem do próprio Deus não deixa sombra de dúvida. Se o Juiz superior me inocenta, quem me condenará? Se o mais alto tribunal no universo pronuncia-me justo, quem poderá apor acusação? A justificação que vem de Deus é uma resposta suficiente para uma consciência enfraquecida. Por meio dela, o Espírito Santo bafeja paz sobre a totalidade da nossa natureza, e já não temos medo. Com sua justificação, podemos reagir contra todos rugidos e ciladas de Satanás e do homem iníquo. Com tal justificação estaremos prontos para morrer: para ressuscitar e enfrentar o juízo final. Amigo, o Senhor pode lavar os seus pecados. Não atiro no escuro quando digo isso.“Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens”. Ainda que você esteja à beira do precipício, despencando em crimes, ele pode remover o abismo, e dizer: “Quero, fica limpo!” O Senhor é um grande perdoador.



Retirado do Livro: Tudo pela Graça (Charles H. Spurgeon)


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