domingo, 10 de abril de 2011

Os tempos estão mudando

Um dos mais antigos mistérios do pensamento teórico é a questão: O que é o tempo? 

Immanuel Kant definiu o tempo e o espaço como "intuições puras". Vemos o tempo como algo intrinsecamente relacionado com a matéria e o movimento. Sem matéria e espaço [matéria e movimento], nós não temos como medir a passagem do tempo. Tempo, ao que parece, está sempre em movimento. Ele nunca pode ser interrompido.Historicamente, temos medido a passagem do tempo com vários objetos materiais: o relógio de sol, que mostra o movimento das sombras em seu mostrador; a areia caindo pela ampulheta; os ponteiros movidos por engrenagens dentro de um relógio e os ponteiros de minutos e de horas que se deslocam em torno de um círculo de números. Eu medito ao olhar para um grande relógio de parede, observando o extenso movimento do segundo ponteiro. Olho para o doze no mostrador e aguardo o segundo ponteiro passar por ele. Baixo meus olhos para o número seis, e sei que o segundo ponteiro ainda não o alcançou, mas enquanto o ponteiro se arrasta em direção a parte inferior do mostrador, tenho a sensação do tempo se movendo tão rapidamente em direção ao futuro no número seis. Então, instantaneamente, o segundo ponteiro passa, e o que há um momento era futuro, agora já é o passado. Às vezes, quando experimento tais exercícios, desejo mandar o relógio parar. Mas ele não irá parar - ele não pode parar. Como declara o axioma, "O tempo não pára." 

Tudo na criação está sujeito ao tempo. Tudo na criação é mutável. Tudo na criação passa pelo processo de geração e decadência. Deus, e somente Deus é eterno e imutável. Deus, e somente Deus escapa do implacável ataque do tempo.

Nós não apenas medimos os momentos no tempo, mas medimos períodos que ocorrem em termos de ciclos, eras e épocas. Na nossa própria geração, temos visto várias transições das culturas humanas nas quais nos encontramos situados, arremessados contra o pano de fundo de tempo (como Martin Heidegger indicou em seu épico livro Ser e Tempo). Dizemos que os tempos estão mudando. Isso não significa que o próprio tempo mude. Ainda há sessenta segundos em um minuto, sessenta minutos em uma hora, vinte e quatro horas em um dia. Mas as culturas estão em constante mudança nos seus padrões, em seus valores e nos seus compromissos. Na minha vida tenho testemunhado dramáticas mudanças na cultura em que me encontro. Posso pensar em onde estava e o que eu estava fazendo quando ouvi o anúncio da morte de Franklin Delano Roosevelt. Me lembro de onde estava e o que estava fazendo quando ouvi no rádio, a notícia de que os Estados Unidos estava testando sua primeira bomba atômica (antes Hiroshima e Nagasaki). Me lembro de onde estava e que estava fazendo no final da II Guerra Mundial, o assassinato de John F. Kennedy, o lançamento Russo do Sputnik ao espaço, e as notícias da primeira caminhada do homem na lua. Mas talvez o que me lembro mais do que qualquer coisa é de toda uma década - a década de 1960 - em que os Estados Unidos da América passou por uma revolução não-sangrenta que mudou a cultura de modo tão dramático que as pessoas que viveram antes daquela década se sentiam como alienígenas em uma cultura dominada por uma visão de mundo pós-1960. A revolução dos anos 60 significou o fim do idealismo e introduziu várias mudanças radicais na cultura, incluindo a revolução sexual. A santidade do casamento foi a mais explicitamente arruinada. O discurso limpo e saudável na esfera pública tornou-se cada vez mais raro. A santidade de vida, com respeito ao nascimento, sofreu ataque legislativo, e o relativismo moral se tornou a norma em nossa cultura.

Com esse relativismo moral, chegaram avanços tecnológicos que também alteraram nossa vida diária. A explosão do conhecimento embalada pelo surgimento e proliferação da utilização do computador trouxe uma nova cultura de pessoas que vivem mais ou menos "online". Esta cultura relativista trouxe consigo uma cultura do eros e uma elevada dependência da pornografia, bem como uma cultura de drogas, com a posterior invasão do vício e do suicídio. Os tempos em que vivemos são tempos extremamente desafiadores para a Igreja de Jesus Cristo. A grande tragédia da Igreja na revolução pós-1960 é que a face da Igreja mudou junto com a face da cultura secular. Em uma busca fatal por relevância, a Igreja tem se tornado, freqüentemente, um mero eco da cultura secular em que vive, com um desesperado desejo de estar "com ela"[a cultura secular], e se tornar aceitável ao mundo contemporâneo. A própria igreja adotou o mesmo relativismo que tanto pretende superar. O que é necessário em tempos como o nosso, é uma igreja que aborda o temporal, enquanto, ao mesmo tempo, permanece apegada ao eterno - uma igreja que fale, conforte, e cure todas as coisas mortais e seculares sem abandonar o que é eterno e santo . A igreja deve encarar sempre a questão de saber se o seu compromisso é com a santidade ou com a profanidade. Precisamos de igrejas cheias de cristãos que não estejam escravizados pela cultura; igrejas que busquem mais do que qualquer coisa, agradar a Deus e Seu Filho unigênito, ao invés de atrair o aplauso de homens e mulheres a caminho da morte. Onde está essa Igreja? Essa é a Igreja que Cristo estabeleceu. Essa é a Igreja cuja missão é a redenção de um mundo agonizante, e essa é a Igreja para a qual somos chamados a ser. Que Deus tenha misericórdia de nós e de nossa cultura, caso nossos ouvidos se tornem surdos para esse chamado. 


R. C. Sproul The Times, They are a-changing
Tabletalk Magazine – Abril 201

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